O despertador toca às 6h30. O primeiro pensamento que vem à minha cabeça é ficar inconformado por ser tão viciado neste esporte.
Desligo o despertador e tento dormir por mais alguns minutos. Em vão. Minha mente já está na Austrália. Em mais uma final de Grand Slam. A terceira seguida entre Rafael Nadal e Novak Djokovic. Eu fico tenso e ansioso sem nem saber o porquê. Os dois são meus ídolos e não consigo decidir para quem vou torcer.
Peço a permissão para não chamar estes dois jogadores de tenistas. Ou melhor, nem jogadores eles são. Animais? Pode ser. Pensei também em chamá-los de Monstros mas ainda não está a altura do que aconteceu de hoje. Portanto, fico com Sobre-Naturais.
O jogo começa extremamente tenso. Os dois se respeitando demais. Novak Djokovic com a pressão para confirmar não só sua hegemonia mas também para mostrar que joga para fazer história. Do outro lado, Rafael Nadal tenta não perder a sétima partida seguida para o sérvio. Fato inédito e que ninguém acreditava possível ser tão soberano contra o espanhol.
Rafa mostra que se Nole quer vencê-lo, precisará bater sempre uma bola a mais. Começa bastante agressivo, uma nova postura, o que surpreende o sérvio. Com o saque afiado e o inside out de forehand andando demais, Rafa fecha o 1º set. 7/5.
O segundo set e o número 1 do mundo resolve se soltar. E não custa reafirmar: quando Novak Djokovic está confiante é IMPRESSIONANTE o nível de jogo atingido. Nole é capaz de desferir bolas vencedoras para todos os lados. Seja em seu backhand ou no forehand. Nole atinge um estágio Sobre-Natural. Não só vence o 2º set por 6/4 como atropela Nadal no terceiro, 6/2.
A partir do quarto set, o que já era espetacular vira épico. É impossível relatar o que aconteceu. Que Nadal busca todos os pontos, todo mundo já sabe. No entanto, chega a ser mais do que surpreendente a entrega do Toro. Djokovic disparava bombardeios por todos os cantos da quadra a fim de terminar a partida já no 4º set. Só que Nadal se recusa a perder. É por isso que é um MITO ! O espanhol não aceita perder. Não era uma bola a mais que Nole tinha que bater para conquistar o ponto. Era umas 10 bolas a mais ! O Sobre-Natural Nadal vira um tiebreak em que perdia por 5-3 e leva a partida para o 5º set. Na comemoração, ajoelha-se. E eu confesso que se fosse espanhol, teria chorado com essa cena.
Naquela altura, o duelo já encaminhava para ser a final de Grand Slam mais longa da história. O relógio da quadra já passava das 5 horas de emoção e muito ainda estava para acontecer. Nadal abre uma vantagem de 4/2. Porém, é a vez do sérvio demonstrar que também quer demais o título. Uma recuperação mais do que impressionante. Nole mostrou ao mundo que está superior não só na parte física mas também na parte mental. O número 1 do mundo consegue uma recuperação surpreendente. Torna-se extremamente agressivo e a partida vira um ataque contra defesa. Djokovic, atacando como se nunca viu na história deste esporte, e Nadal, defendendo como se nunca viu na história do tênis.
5h51 de partida. Championship Point para Novak Djokovic. O sérvio saca forte no meio, a bola vem curta e ele desfere um winner de forehand. Game, Set & Match, Novak Djokovic. 5h53m de duelo.
Ao final da partida, me pego no telefone com meu pai e digo: "entende porque eu gosto tanto deste esporte?". E tudo faz sentido outra vez. Entendo porque passei madrugadas acordado nestas duas semanas, acordei 6h30 vários dias e , no 1º Grand Slam do ano, somos presentados com um jogo épico.
O vencedor é o de menos. Em frente a TV, fico de pé e bato palmas aos esgotados jogadores. Me desculpem quem é fan de UFC e aquele bordão do Galvão Bueno de "Gladiadores do Novo Milênio", mas ISTO É ESPORTE. ISTO É LUTAR. ISTO É SE ENTREGAR E DAR A VIDA POR UM JOGO. E se existem gladiadores, estes são Rafael Nadal e Novak Djokovic.
MUITO OBRIGADO, RAFA E NOLE.
ps: sei que há muitos fãs de UFC e que vão me criticar, porém desde quando uma joelhada na cara de uma pessoa é bonito ?